História
Um único segundo e o nosso agora já virou memória
Idealizado pelo engenheiro Mario Bhering e instituído em 1986, o Centro da Memória da Eletricidade no Brasil realiza atividades e projetos voltados à pesquisa histórica, preservação e difusão de acervos de empresas do setor elétrico.
Entre as atividades promovidas estão a produção de publicações impressas e digitais, a coleta de relatos de história oral, a gestão de bibliotecas corporativas, a preservação e gestão de acervos e documentos, a promoção de eventos de reflexão e valorização da memória empresarial e o intercâmbio de conhecimentos através de debates, produção de conteúdos e projetos sob demanda.
Membros Instituidores
Associação Brasileira de Companhias da Energia Elétrica- ABCE
Associação de Empresas Distribuidoras da Eletricidade do Norte, Nordeste e Centro-Oeste - Aedenne (extinta)
Associação Nacional das Empresas Estaduais de Energia Elétrica - Acesa (extinta)
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobras
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte
Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. - Eletrosul
Centro de Pesquisas de Energia Elétricas - Cepel
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf
Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. - Escelsa
Furnas Centrais Elétricas S.A. - Furnas
Light Serviços de Eletricidade S.A.
Membros Mantenedores
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobras
Centro de Pesquisas de Energia Elétricas - Cepel
Eletronuclear S.A.
Norte Energia
Itaipu Binacional
Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS
Missão
Pesquisar e preservar a história e prospectar os desafios atuais e as tendências futuras da energia elétrica no país, segundo seus diferentes usos, fontes e tecnologias, contribuindo para a compreensão do presente e das perspectivas da indústria da eletricidade no Brasil.
Visão
Sociedade e agentes do setor informados e conscientes a respeito dos desafios e das inovações tecnológicas da energia elétrica e do seu poder de transformação empresarial, socioeconômica e cultural.
Valores
Qualidade e isenção;
Profissionalismo e comprometimento;
Excelência no atendimento;
Espírito empreendedor;
Cooperação e trabalho em rede.
Presidentes
Alberto Galvão Moura Jardim
Sexto presidente do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, Alberto Galvão Moura Jardim é formado em Engenharia Civil pela Universidade Gama Filho e em Análise de Sistemas pela PUC-Rio, possui também Pós-Graduação em Administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e em Energia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Iniciou a sua atuação na Eletrobras na área de sistemas e durante anos trabalhou em conjunto no aperfeiçoamento da área de recursos humanos criando, neste período, a Universidade Corporativa da Eletrobras. Entre os anos de 2003 e 2004, chefiou o Departamento de RH. De 2004 a 2006 esteve na Assessoria de Planejamento Estratégico da Eletronuclear. De volta à Eletrobras, presidiu a Comissão de Ética e atuou como Secretário Executivo de Sustentabilidade, alcançando grandes feitos como a integração da Holding no índice de sustentabilidade da Bolsa de Valores de São Paulo. Entre 2016 e 2023 ocupou a Chefia de Gabinete da Presidência da Holding.
Alberto atuou como professor, ministrando as disciplinas de Administração e Processos na UniCarioca. Presidiu os Conselhos de Administração da Chuí Holding SA Eólica e da Santa Vitoria do Palmar Eólica Holding.
Desde 2018 ocupa a cadeira de conselheiro da Memória da Eletricidade, assumindo sua presidência em setembro de 2023.
Mario Fernando de Melo Santos
Chefe da Divisão de Manutenção Elétrica, chefe do Departamento de Transmissão, chefe do Departamento de Movimento e Energia e diretor de Operações da Chesf; vice-presidente do CCONN; diretor de Operação e presidente (interino) da Eletrobrás; presidente do ONS.
Mario Fernando de Melo Santos nasceu em Recife (PE) no dia 18 de julho de 1938. Formou-se em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de Pernambuco (EPE) em 1962. No ano seguinte, ingressou na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), assumindo funções de crescente importância na área de operação da empresa. Foi sucessivamente chefe da Divisão de Manutenção Elétrica (1967), do Departamento de Transmissão (1970) e do Departamento de Movimento de Energia (1972), e tornou-se diretor de Operações em 1979, integrando a diretoria da empresa até maio de 1990. Complementou sua formação realizando cursos de especialização na Electricité de France (EDF) e também em centros de controle de operação norte-americanos e europeus.
Participou ativamente dos trabalhos de coordenação operativa dos sistemas elétricos brasileiros, realizados por organismos colegiados sob a liderança da Centrais Elétricas Brasileiras S. A. (Eletrobrás). Em 1974, foi designado representante da Chesf no Comitê Coordenador de Operação do Nordeste (CCON), organismo criado em setembro daquele ano pelo Ministério das Minas e Energia (MME) com o objetivo de disciplinar o relacionamento operativo e comercial entre a Chesf e as empresas responsáveis pela distribuição na sua área de atuação. Colaborou com a execução do projeto de interligação Norte-Nordeste, efetivado em 1981 mediante a conexão dos sistemas elétricos da Chesf e da Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte). Além de representante da Chesf no CCON (que teve sua denominação alterada para Comitê Coordenador de Operação Norte/Nordeste em 1982), exerceu as funções de vice-presidente e presidente do organismo em vários períodos ao longo da década de 1980.
Entre 1978 e 1990, também representou a Chesf no Grupo Coordenador para Operação Interligada (GCOI), organismo responsável desde 1973 pela coordenação da operação dos sistemas elétricos interligados das regiões Sudeste e Sul. A Chesf passara a integrar o GCOI em 1977 em razão da interdependência hidráulica entre os sistemas das regiões Sudeste e Nordeste, decorrente do aproveitamento comum das águas do rio São Francisco. Atuou igualmente na Comissão de Integração Elétrica Regional (Cier), fórum de cooperação sul-americano na área de energia elétrica, sediado em Montevidéu, Uruguai. Além de coordenador-técnico nacional do Sub-Comitê de Operação e Manutenção entre 1977 e 1979, foi delegado do Brasil na Reunião de Altos Executivos do Cier, realizada em Quito, no Equador, em 1985. Deixou a diretoria da Chesf em julho de 1990 para ocupar o cargo de coordenador nacional de abastecimento do Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), organismo criado em março do mesmo ano, no início do governo Fernando Collor de Mello, em substituição ao extinto Conselho Nacional de Petróleo (CNP).
Em maio de 1991, assumiu a Diretoria de Operação da Centrais Elétricas Brasileiras S. A. (Eletrobrás) e, por força dessa condição, a coordenação do comitê executivo do GCOI e a secretaria-executiva do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel). Em 1992, passou a integrar o Conselho de Administração da Eletronorte, ocupando sua presidência no ano seguinte, em substituição ao engenheiro Eliseu Resende. Ao longo dos sete anos em que permaneceu na diretoria da holding federal, atuou também como membro da Comissão Mista de Operação Itaipu-Eletrobrás-Ande e do Comitê de Administração dos Contratos de Operação de Itaipu. No final de dezembro de 1994, assumiu a presidência da Eletrobrás em caráter interino, substituindo o engenheiro José Luiz Alquéres. Permaneceu no comando da holding durante os primeiros meses do governo Fernando Henrique Cardoso. Durante sua gestão, o Conselho Nacional de Desestatização (CND) aprovou a inclusão da Eletrobrás e das quatro empresas de âmbito regional do grupo federal no Programa Nacional de Desestatização (PND).
Em maio de 1995, transmitiu o cargo de presidente da Eletrobrás ao engenheiro Antônio José Imbassahy da Silva. Em dezembro do mesmo ano, assumiu a presidência da Eletronorte como substituto interino do engenheiro Ricardo Pinto Pinheiro. Esteve no comando da Eletronorte até maio de 1996, quando engenheiro José Antônio Muniz Lopes tomou posse como novo titular do cargo. Foi vice-presidente da Cier entre 1996 e 1997 e presidente do órgão no biênio seguinte. Como diretor de Operação da Eletrobrás, integrou o núcleo dirigente do projeto de reestruturação institucional do setor de energia elétrica, coordenado pelo MME, com o auxílio de consultores internacionais contratados em 1996. O projeto balizaria grande parte das ações do governo federal para a reestruturação e a privatização das empresas do grupo Eletrobrás e a implantação de um modelo predominantemente de mercado no setor de energia elétrica, em substituição ao modelo estatal então vigente.
Integrou a diretoria da Eletrobrás até setembro de 1998, quando foi escolhido presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade de direito privado sem fins lucrativos, constituída nos termos da Lei nº 9.648, promulgada em maio do mesmo ano. De acordo com o novo marco regulatório do setor definido pela lei, o ONS assumiria a responsabilidade pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mario Santos e os demais membros da primeira diretoria do ONS foram formalmente investidos em seus cargos em outubro de 1998. Com a transferência das atribuições do GCOI e do CCON para o ONS, os antigos organismos colegiados da operação coordenados pela Eletrobrás foram extintos em maio de 1999. Mario Santos foi reeleito presidente do ONS em abril de 2001. Nessa condição, integrou o núcleo executivo da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), organismo criado em maio de 2001 pelo governo Fernando Henrique Cardoso, responsável pela implementação do programa de racionamento em grande parte do país a partir do mês seguinte.
O programa impôs medidas restritivas de consumo de energia elétrica em todas as regiões atendidas pelo Sistema Interligado Nacional, menos os estados do Sul, persistindo até fevereiro de 2002. Reeleito presidente do ONS em maio de 2004, renunciou ao cargo em novembro de 2005, sendo substituído no comando da entidade pelo engenheiro Hermes Jorge Chipp. Em dezembro de 2005, assumiu a presidência da Endesa Brasil, holding controlada pelo grupo espanhol Endesa, detentor de ativos importantes nas áreas de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica no país.
BIOGRAFIA ATUALIZADA POR PAULO BRANDI NO ANO DE 2008
Mario Penna Bhering
Mario Penna Bhering, Diretor comercial, vice-presidente e presidente da Cemig; diretor de Furnas; presidente da Eletrobras; presidente da Memória da Eletricidade
Mario Penna Bhering nasceu em Belo Horizonte (MG) no dia 24 de maio de 1922. Formou-se pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1945, realizando em seguida uma viagem de estudos aos Estados Unidos. Retornou ao Brasil dois anos depois, trabalhando junto à representação da Allis Chalmers, fabricante norte-americana de equipamentos hidráulicos e elétricos.
Em 1951, no primeiro ano do governo Juscelino Kubitschek em Minas Gerais, integrou o grupo responsável pela formulação do programa de energia elétrica da nova administração estadual. Participou do processo de constituição da Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), mais tarde transformada em Companhia Energética de Minas Gerais, assumindo o cargo de diretor comercial da empresa, por ocasião de sua fundação em maio de 1952. Coordenou as negociações com o Banco Mundial (Bird), o Export-Import Bank (Eximbank) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a concessão de empréstimos relacionados à construção das hidrelétricas de Itutinga e Camargos e à montagem dos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica da concessionária mineira.
Vice-presidente da Cemig entre 1955 e 1964, liderou o processo de contratação de empréstimos e créditos para a compra dos equipamentos da hidrelétrica de Três Marias, oficialmente denominada Usina Hidrelétrica Bernardo Mascarenhas. Entre 1960 e 1965, a par de suas funções na Cemig, integrou a diretoria da Central Elétrica de Furnas S. A., empresa federal criada em 1957 que, mais tarde, mudaria sua denominação para Furnas Centrais Elétricas S.A.
Por seu intermédio, a Cemig tomou conhecimento em 1961 da possibilidade de obter recursos da Organização das Nações Unidas (ONU) para o estudo do potencial energético de Minas Gerais, tendo em vista o planejamento ordenado da expansão do sistema elétrico da empresa. Por sugestão do Banco Mundial, o levantamento acabaria abrangendo as demais bacias hidrográficas da região Sudeste, com a participação de técnicos norte-americanos e canadenses do consórcio Canambra Engineering Consultants Limited.
Além do início dos estudos energéticos da região Sudeste, o ano de 1962 também foi marcado pela constituição da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) como empresa holding e agente executivo da política setorial do governo federal. Segundo depoimento do engenheiro Paulo Richer, primeiro presidente da Eletrobras, a constituição da empresa contou com a importante participação de vários técnicos da Cemig cedidos por Mario Bhering.
Vice-presidente do Comitê Brasileiro à Conferência Mundial de Energia entre 1964 e 1968, ocupou interinamente a presidência da Cemig de julho a outubro de 1965. Foi efetivado no cargo no ano seguinte, em substituição a Celso Melo de Azevedo. Entre outras realizações, sua gestão foi responsável pela incorporação da Companhia Sul Mineira de Eletricidade (CSME) e pela inauguração de linhas de transmissão em direção à região Noroeste do estado.
Em março de 1967, assumiu a presidência da Eletrobras, em substituição ao engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, sendo sucedido na Cemig pelo engenheiro João Camilo Penna. De 1967 a 1969, também presidiu a Comissão de Integração Elétrica Regional (Cier). A primeira gestão de Mario Bhering na Eletrobras durou oito anos, estendendo-se pelos governos dos generais Arthur da Costa e Silva (1967-1969), Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979). Durante este período, a empresa consolidou-se como órgão encarregado do planejamento e da coordenação da expansão do sistema elétrico do país. Beneficiada pelo ciclo de crescimento econômico conhecido como "milagre brasileiro", a Eletrobras tornou-se a principal agência de financiamento do setor, ampliando consideravelmente seus investimentos e sua atuação na geração de energia.
A composição da holding federal sofreu importantes mudanças. Além de Furnas e da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a empresa passou a contar com duas novas subsidiárias de âmbito regional: a Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. (Eletrosul) - atualmente denominada Eletrosul Centrais Elétricas S.A. - e a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte), criadas em 1968 e 1973, respectivamente. Em contrapartida, quase todas as empresas da American & Foreign Power Company (Amforp) adquiridas pelo governo federal em 1964 foram transferidas para o controle das concessionárias estaduais, excetuando-se a empresa distribuidora do Espírito Santo, que permaneceu no sistema da Eletrobras.
Mario Bhering também foi um dos principais idealizadores do empreendimento binacional de Itaipu, tendo participado dos entendimentos com culminaram com a assinatura do Tratado de Itaipu pelos governos do Brasil e do Paraguai, em abril de 1973, e a constituição da Itaipu Binacional, em maio do ano seguinte.
Outros marcos importantes de sua primeira gestão na presidência da Eletrobras foram o avanço do processo de unificação da freqüência no padrão de 60 hertz, o esforço pioneiro de reconhecimento do potencial energético da Amazônia, a organização do Grupos Coordenadores para Operação Interligada (GCOI), a criação do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e a elaboração do plano de expansão de longo prazo dos sistemas elétricos interligados das regiões Sudeste e Sul, conhecido como Plano 90.
Em novembro de 1975, renunciou à presidência da Eletrobras por divergências com o ministro de Minas e Energia, Shigeaki Ueki, relacionadas ao programa de desenvolvimento nuclear formulado pelo governo Geisel em cooperação com a República Federal da Alemanha. Firmado em junho de 1975, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha previu a implantação de uma indústria nuclear integrada no país e a instalação de oito centrais nucleares até 1990. Cumpre ressaltar que o Plano 90 da Eletrobras recomendara efetivamente a instalação de apenas duas usinas nucleares, além da central de Angra I, já em fase de construção. Mario Bhering foi substituído no comando da holding federal por Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, que acabara de cumprir seu primeiro mandato como governador da Bahia.
Entre 1977 e 1983, sob orientação do presidente de Itaipu Binacional, general José Costa Cavalcanti, participou da execução das obras da usina, da política de suprimentos e das negociações com os dirigentes paraguaios, representados por Enzo Debernardi. Também no mesmo período, representou o Brasil nas negociações tripartites com a Argentina e o Paraguai, visando a definição das características técnicas do projeto do aproveitamento hidrelétrico de Corpus, na fronteira entre Argentina e Paraguai, e do regime hidráulico a jusante de Itaipu.
Em março de 1983, depois de ter atuado no BID como consultor do governo do Peru (1981-1982), assumiu novamente a presidência da Cemig a convite do governador mineiro Tancredo Neves. Em sua nova gestão deu-se a transformação da Cemig em companhia energética. Sua segunda passagem pela companhia foi marcada pela execução de um amplo programa de eletrificação rural e urbana no estado, pelo estímulo aos projetos de conservação do meio ambiente e de incorporação de novas fontes de energia, como a gaseificação de biomassas. Em abril de 1985, deixou a direção da Cemig para novamente ocupar a presidência da Eletrobras. Sucedendo a José Costa Cavalcanti, foi substituído na empresa mineira por Guy Villela Pascoal.
Presidente da Eletrobras durante quase todo o governo José Sarney (1985-1990), teve sua administração dificultada pela grave crise econômica vivida pelo país no período, não conseguindo levar a bom termo o Plano de Recuperação do Setor de Energia Elétrica (PRS), elaborado no primeiro ano de sua gestão. De todo modo, foram praticamente concluídas as obras da usina de Itaipu e da primeira etapa do aproveitamento hidrelétrico de Tucuruí, bem como iniciada a construção da hidrelétrica de Xingó. Tal como fizera na Cemig, deu especial atenção aos problemas ambientais, que passaram a merecer tratamento sistemático nos projetos e estudos da holding.
Foi o principal idealizador do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil - Memória da Eletricidade, tornando-se seu presidente-fundador em 1986. Nesse mesmo ano, passou a atuar como consultor da diretoria do grupo Tratex-Rural/Servix.
Deixou a presidência da Eletrobras em junho de 1990, no início do governo Fernando Collor de Mello, transmitindo o cargo a José Maria Siqueira de Barros. Em 1992, reassumiu a presidência da Memória da Eletricidade. Entre 1994 e 2006, atuou também como diretor e consultor da BFB Engenharia e Consultoria Ltda.
A par de suas atividades no setor de energia elétrica, dedicou-se à prática artística, em especial a produção de aquarelas, tendo realizado exposições em várias cidades brasileiras. Sua obra artística foi retratada em Mario Bhering: a história da aquarela (2005), de autoria da historiadora Cristina Ávila.
Sobre sua trajetória profissional, foi publicado Mario Bhering: memória do setor elétrico brasileiro (2006), organizado pelo jornalista Alexandre Falcão.
Biografia atualizada por Paulo Brandi no ano de 2008. Mario Bhering faleceu em Belo Horizonte no dia 01 de setembro de 2009.
Eliseu Resende
Diretor-Presidente de Furnas e presidente da Eletrobras
Eliseu Resende nasceu em Oliveira (MG) no dia 7 de fevereiro de 1929. Iniciou carreira profissional no Banco de Crédito Real de Minas Gerais S.A (Credireal), onde foi admitido aos quinze anos como contínuo. Com o apoio da direção do banco, concluiu em 1954 o curso de Engenharia Civil da Universidade de Minas Gerais (UMG), atual Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Depois de formado, assumiu a chefia do Departamento de Engenharia do Credireal
Em 1957, tornou-se professor da Escola de Engenharia da UMG e do Instituto de Pesquisas Radioativas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Em 1960, viajou aos Estados Unidos, onde fez o mestrado e o doutorado em Ciências Matemáticas, ambos pelo Courant Institute of Mathematical Sciences da Universidade de Nova Iorque. Ali exerceu as funções de pesquisador do mesmo Instituto.
De volta ao Brasil, foi nomeado, em maio de 1964, diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) pelo governador José de Magalhães Pinto, permanecendo à frente do órgão após a eleição do governador Israel Pinheiro da Silva, no pleito de outubro de 1965.
Em março de 1967, no início do governo do general Arthur da Costa e Silva, foi nomeado diretor-geral do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), órgão ligado ao Ministério dos Transportes, cujo titular era o coronel Mário Davi Andreazza. Encerrou sua gestão em março de 1974, ao final do governo do general Emílio Garrastazu Médici. No DNER, foi responsável pela execução das obras da Ponte Rio-Niterói e das rodovias Transamazônica, Belém-Brasília e Rio-Santos, entre outros empreendimentos. Ainda em 1974, ingressou na empresa de mineração Samarco, para a qual projetou e construiu o primeiro mineroduto do país, ligando o quadrilátero ferrífero de Minas Gerais ao porto de Vitória, numa extensão de cerca de quatrocentos quilômetros. Em abril de 1975, foi eleito diretor-presidente da empresa.
Retornou à administração federal em março de 1979, no início do governo João Figueiredo, assumindo o cargo de ministro dos Transportes, em substituição ao general Dirceu Araújo Nogueira. Suas principais realizações no ministério foram a conclusão do trecho inicial dos metrôs do Rio de Janeiro e de São Paulo, a criação do Programa de Mobilização Energética (PME) para o setor de transportes e a concepção do Programa Nacional de Agrovias (PNA). Deixou o ministério em maio de 1982 para disputar as eleições ao governo de Minas Gerais pelo Partido Democrático Social (PDS), sendo substituído na pasta por Cloraldino Soares Severo. No pleito de novembro de 1982, foi derrotado por Tancredo de Almeida Neves, candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Entre 1983 e 1989, dedicou-se principalmente a atividades no setor petroquímico exercendo funções de direção e como membro de conselhos de empresas do Polo de Camaçari, na Bahia. Tornou-se também membro dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em 1987, e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1990.
Foi nomeado diretor-presidente de Furnas Centrais Elétricas S.A. em maio de 1990, no início do governo Fernando Collor de Mello, tomando posse no mês seguinte, em substituição a João Camilo Penna. Em 1991, tornou-se membro do Conselho de Administração da Nuclebrás Engenharia S. A. (Nuclen). Assumiu o comando da Centrais Elétricas Brasileiras S.A (Eletrobras) em outubro de 1992, no início do governo Itamar Franco, em substituição ao engenheiro José Maria Siqueira de Barros, sendo substituído na presidência de Furnas pelo engenheiro Marcelo Lignani Siqueira.
Durante sua curta permanência na Eletrobras, teve participação destacada no processo de elaboração e aprovação da Lei nº 8.631, sancionada pelo presidente Itamar Franco em 4 de março de 1993. Marco inicial da reformulação do quadro institucional do setor de energia elétrica, a Lei nº 8.631 determinou a extinção do serviço pelo custo com remuneração garantida, o fim da equalização tarifária e da Conta de Resultados a Compensar (CRC), bem como a obrigatoriedade da celebração de contratos entre concessionárias supridoras e distribuidoras. Tendo em vista o restabelecimento da adimplência entre as empresas estatais de energia elétrica, a lei reconheceu os saldos credores da CRC para quitação de dívidas intra-setoriais relativas ao suprimento de energia e à Reserva Global de Reversão (RGR) e de dívidas das empresas com a União e a Eletrobras.
Designado pelo presidente Itamar Franco para assumir o lugar de Paulo Roberto Haddad no Ministério da Fazenda, deixou a Eletrobras em março de 1993, tendo sido substituído por José Luiz Alquéres. Durante seu período de permanência na holding federal, presidiu o Conselho de Administração da Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A. (Eletronorte). Exerceu o cargo de ministro da Fazenda durante apenas dois meses. Em maio de 1993, pediu exoneração em razão da crise provocada por denúncias que envolviam seu nome em processo de favorecimento à construtora Norberto Odebrecht, expondo as razões de sua renúncia em carta dirigida ao presidente da República. Foi sucedido na pasta por Fernando Henrique Cardoso.
No pleito de outubro de 1994, foi eleito deputado federal por Minas Gerais na legenda do Partido da Frente Liberal (PFL), assumindo uma cadeira na Câmara em fevereiro do ano seguinte. Em seu primeiro mandato como deputado federal, presidiu as comissões de Minas e Energia e de Finanças e Tributação da Câmara, bem como a Comissão Especial da Reforma Tributária. Teve atuação destacada como relator do projeto de lei de criação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Aprovado pelo Congresso, o projeto também propunha a flexibilização do monopólio do petróleo, dando origem à Lei nº 9.478, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 6 de agosto de 1997.
Reeleito deputado federal pelo PFL mineiro em outubro de 1998, iniciou novo mandato em fevereiro do ano seguinte. Atuou como relator dos projetos de lei que resultaram na criação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, em julho de 2000, e na reestruturação do setor federal de transportes com a criação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em julho de 2001. Em outubro de 2002, foi reeleito deputado federal na legenda do PFL mineiro. Cumpriu o novo mandato a partir de fevereiro do ano seguinte, exercendo ao mesmo tempo o cargo de presidente do diretório regional do PFL-MG.
Em outubro de 2006, foi eleito senador por Minas Gerais. Assumiu o mandato em fevereiro de 2007, tornando-se vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e membro das comissões de Infra-estrutura, Direitos Humanos e Legislação Participativa e Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle. Também participou da convenção nacional do PFL que aprovou a mudança de designação da legenda para Democratas (DEM) em março de 2007.
Publicou diversos trabalhos em revistas especializadas norte-americanas e nos anais da Academia Brasileira de Ciências, destacando-se Propagation, reflexion and diffraction of elastic waves (1964); Solution of an inicial-boundary value problem for wave equation (1964); Aspectos técnicos e econômicos da implantação de rodovias (1966); Papel da rodovia no desenvolvimento da Amazônia (1969); Transporte e produção (1977); The world crisis an transportation in Brazil (1983); Teoria matemática da elasticidade aplicada ao dimensionamento de pavimentos (s.d.); Investimentos rodoviários e sua contribuição à economia (s.d.); Investimentos rodoviários: considerações sobre a atual experiência brasileira (s.d.); Evolução dos transportes em Minas Gerais (s.d.); Estudo sobre localizações industriais com aplicação à siderurgia no Brasil (s.d.); Econometria dos transportes (s.d.); A política nacional de energia e a nova lei do monopólio do petróleo (1997), A conjuntura econômica e seus desdobramentos (1999), A Agência Nacional de Águas (ANA) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (2000); Transporte no Brasil - nova estrutura administrativa - novo modelo de financiamento (2001).
BIOGRAFIA ATUALIZADA POR PAULO BRANDI NO ANO DE 2008
José Maria Siqueira de Barros
Presidente da Eletrobras
José Maria Siqueira de Barros nasceu em Cachoeira Paulista (SP) no dia 2 de agosto de 1937. Formou-se em Engenharia Civil e Elétrica pela Escola de Engenharia Mackenzie, em São Paulo, em 1962. Ainda na faculdade, trabalhou na firma Construção e Comércio Obras Ltda.
Ingressou em 1963 na Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo (Cherp), empresa pertencente ao governo paulista, absorvida pelas Centrais Elétricas de São Paulo S.A (Cesp) em 1966, juntamente com outras empresas públicas estaduais congêneres. Participou da construção da usina hidrelétrica Caconde, inicialmente denominada Graminha, passando a integrar o quadro de funcionários da Cesp no momento de constituição dessa empresa. Chefiou o departamento de custos, medições, contratos e pagamentos da Cesp, transferindo-se em 1975 para a Companhia do Metropolitano de São Paulo. Em março de 1979, assumiu a presidência da companhia, por indicação de Paulo Salim Maluf que iniciava então seu primeiro mandato como governador de São Paulo. Exerceu esse cargo durante 18 meses, tendo prestado serviços de consultoria, na mesma época, à diretoria financeira da Itaipu Binacional. Em agosto de 1980, foi designado para chefiar a Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo pelo governador Paulo Maluf, permanecendo no cargo até março de 1982. Em seguida, atuou como assessor do ministro do Planejamento, Antônio Delfim Neto, até o final do mandato do presidente João Figueiredo em março de 1985. Nesse mesmo ano, constituiu a empresa Enbar Assessoria e Participações S. C. Ltda., especializada na prestação de serviços de engenharia comercial. Ainda em 1985, atuou como presidente da Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro.
Após a posse de Fernando Collor de Mello na presidência da República, em março de 1990, foi chamado a presidir a Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras). Assumiu o cargo em junho do mesmo ano, em substituição ao engenheiro Mario Penna Bhering, permanecendo à frente da holding federal ao longo do governo Collor de Mello. Sua passagem pela Eletrobras foi marcada pelo agravamento da crise financeira e institucional do setor de energia elétrica. Alegando que as tarifas fixadas pelo governo federal eram insuficientes para fazer frente aos custos do serviço, as empresas estaduais atrasaram sistematicamente o pagamento da energia suprida pelas geradoras federais e pela Itaipu Binacional, que, por sua vez, deixaram de pagar o serviço da dívida junto à Eletrobras. Ao mesmo tempo, firmas de construção, fornecedores de bens de capital e empresas de consultoria tornaram-se credores de vultosas faturas, algumas vencidas desde 1988. O programa de investimentos do grupo Eletrobras foi diretamente afetado pela inadimplência e os escassos recursos disponíveis foram basicamente direcionados para a retomada da construção da usina de Xingó, a cargo da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Siqueira de Barros promoveu redução significativa do quadro de pessoal da Eletrobras mediante demissões e desligamentos incentivados. Em junho de 1992, por decreto do presidente Collor, a Light Serviços de Eletricidade S. A. e a Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (Escelsa), ambas pertencentes ao grupo Eletrobras, foram incluídas no Programa Nacional de Desestatização (PND). Após a renúncia de Collor em outubro de 1992, passou o comando da holding federal ao engenheiro Eliseu Resende. Voltou então à Cesp como assessor da presidência.
Aposentou-se em 1995, retomando suas atividades na Enbar Assessoria e Participações e na Public Quadras Esportivas Ltda., essa última também empresa de sua propriedade. Faleceu em 10 de julho de 2019.
Mario Penna Bhering
Mario Penna Bhering, Diretor comercial, vice-presidente e presidente da Cemig; diretor de Furnas; presidente da Eletrobras; presidente da Memória da Eletricidade
Mario Penna Bhering nasceu em Belo Horizonte (MG) no dia 24 de maio de 1922. Formou-se pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1945, realizando em seguida uma viagem de estudos aos Estados Unidos. Retornou ao Brasil dois anos depois, trabalhando junto à representação da Allis Chalmers, fabricante norte-americana de equipamentos hidráulicos e elétricos.
Em 1951, no primeiro ano do governo Juscelino Kubitschek em Minas Gerais, integrou o grupo responsável pela formulação do programa de energia elétrica da nova administração estadual. Participou do processo de constituição da Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), mais tarde transformada em Companhia Energética de Minas Gerais, assumindo o cargo de diretor comercial da empresa, por ocasião de sua fundação em maio de 1952. Coordenou as negociações com o Banco Mundial (Bird), o Export-Import Bank (Eximbank) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a concessão de empréstimos relacionados à construção das hidrelétricas de Itutinga e Camargos e à montagem dos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica da concessionária mineira.
Vice-presidente da Cemig entre 1955 e 1964, liderou o processo de contratação de empréstimos e créditos para a compra dos equipamentos da hidrelétrica de Três Marias, oficialmente denominada Usina Hidrelétrica Bernardo Mascarenhas. Entre 1960 e 1965, a par de suas funções na Cemig, integrou a diretoria da Central Elétrica de Furnas S. A., empresa federal criada em 1957 que, mais tarde, mudaria sua denominação para Furnas Centrais Elétricas S.A.
Por seu intermédio, a Cemig tomou conhecimento em 1961 da possibilidade de obter recursos da Organização das Nações Unidas (ONU) para o estudo do potencial energético de Minas Gerais, tendo em vista o planejamento ordenado da expansão do sistema elétrico da empresa. Por sugestão do Banco Mundial, o levantamento acabaria abrangendo as demais bacias hidrográficas da região Sudeste, com a participação de técnicos norte-americanos e canadenses do consórcio Canambra Engineering Consultants Limited.
Além do início dos estudos energéticos da região Sudeste, o ano de 1962 também foi marcado pela constituição da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) como empresa holding e agente executivo da política setorial do governo federal. Segundo depoimento do engenheiro Paulo Richer, primeiro presidente da Eletrobras, a constituição da empresa contou com a importante participação de vários técnicos da Cemig cedidos por Mario Bhering.
Vice-presidente do Comitê Brasileiro à Conferência Mundial de Energia entre 1964 e 1968, ocupou interinamente a presidência da Cemig de julho a outubro de 1965. Foi efetivado no cargo no ano seguinte, em substituição a Celso Melo de Azevedo. Entre outras realizações, sua gestão foi responsável pela incorporação da Companhia Sul Mineira de Eletricidade (CSME) e pela inauguração de linhas de transmissão em direção à região Noroeste do estado.
Em março de 1967, assumiu a presidência da Eletrobras, em substituição ao engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, sendo sucedido na Cemig pelo engenheiro João Camilo Penna. De 1967 a 1969, também presidiu a Comissão de Integração Elétrica Regional (Cier). A primeira gestão de Mario Bhering na Eletrobras durou oito anos, estendendo-se pelos governos dos generais Arthur da Costa e Silva (1967-1969), Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979). Durante este período, a empresa consolidou-se como órgão encarregado do planejamento e da coordenação da expansão do sistema elétrico do país. Beneficiada pelo ciclo de crescimento econômico conhecido como "milagre brasileiro", a Eletrobras tornou-se a principal agência de financiamento do setor, ampliando consideravelmente seus investimentos e sua atuação na geração de energia.
A composição da holding federal sofreu importantes mudanças. Além de Furnas e da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a empresa passou a contar com duas novas subsidiárias de âmbito regional: a Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. (Eletrosul) - atualmente denominada Eletrosul Centrais Elétricas S.A. - e a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte), criadas em 1968 e 1973, respectivamente. Em contrapartida, quase todas as empresas da American & Foreign Power Company (Amforp) adquiridas pelo governo federal em 1964 foram transferidas para o controle das concessionárias estaduais, excetuando-se a empresa distribuidora do Espírito Santo, que permaneceu no sistema da Eletrobras.
Mario Bhering também foi um dos principais idealizadores do empreendimento binacional de Itaipu, tendo participado dos entendimentos com culminaram com a assinatura do Tratado de Itaipu pelos governos do Brasil e do Paraguai, em abril de 1973, e a constituição da Itaipu Binacional, em maio do ano seguinte.
Outros marcos importantes de sua primeira gestão na presidência da Eletrobras foram o avanço do processo de unificação da freqüência no padrão de 60 hertz, o esforço pioneiro de reconhecimento do potencial energético da Amazônia, a organização do Grupos Coordenadores para Operação Interligada (GCOI), a criação do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e a elaboração do plano de expansão de longo prazo dos sistemas elétricos interligados das regiões Sudeste e Sul, conhecido como Plano 90.
Em novembro de 1975, renunciou à presidência da Eletrobras por divergências com o ministro de Minas e Energia, Shigeaki Ueki, relacionadas ao programa de desenvolvimento nuclear formulado pelo governo Geisel em cooperação com a República Federal da Alemanha. Firmado em junho de 1975, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha previu a implantação de uma indústria nuclear integrada no país e a instalação de oito centrais nucleares até 1990. Cumpre ressaltar que o Plano 90 da Eletrobras recomendara efetivamente a instalação de apenas duas usinas nucleares, além da central de Angra I, já em fase de construção. Mario Bhering foi substituído no comando da holding federal por Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, que acabara de cumprir seu primeiro mandato como governador da Bahia.
Entre 1977 e 1983, sob orientação do presidente de Itaipu Binacional, general José Costa Cavalcanti, participou da execução das obras da usina, da política de suprimentos e das negociações com os dirigentes paraguaios, representados por Enzo Debernardi. Também no mesmo período, representou o Brasil nas negociações tripartites com a Argentina e o Paraguai, visando a definição das características técnicas do projeto do aproveitamento hidrelétrico de Corpus, na fronteira entre Argentina e Paraguai, e do regime hidráulico a jusante de Itaipu.
Em março de 1983, depois de ter atuado no BID como consultor do governo do Peru (1981-1982), assumiu novamente a presidência da Cemig a convite do governador mineiro Tancredo Neves. Em sua nova gestão deu-se a transformação da Cemig em companhia energética. Sua segunda passagem pela companhia foi marcada pela execução de um amplo programa de eletrificação rural e urbana no estado, pelo estímulo aos projetos de conservação do meio ambiente e de incorporação de novas fontes de energia, como a gaseificação de biomassas. Em abril de 1985, deixou a direção da Cemig para novamente ocupar a presidência da Eletrobras. Sucedendo a José Costa Cavalcanti, foi substituído na empresa mineira por Guy Villela Pascoal.
Presidente da Eletrobras durante quase todo o governo José Sarney (1985-1990), teve sua administração dificultada pela grave crise econômica vivida pelo país no período, não conseguindo levar a bom termo o Plano de Recuperação do Setor de Energia Elétrica (PRS), elaborado no primeiro ano de sua gestão. De todo modo, foram praticamente concluídas as obras da usina de Itaipu e da primeira etapa do aproveitamento hidrelétrico de Tucuruí, bem como iniciada a construção da hidrelétrica de Xingó. Tal como fizera na Cemig, deu especial atenção aos problemas ambientais, que passaram a merecer tratamento sistemático nos projetos e estudos da holding.
Foi o principal idealizador do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil - Memória da Eletricidade, tornando-se seu presidente-fundador em 1986. Nesse mesmo ano, passou a atuar como consultor da diretoria do grupo Tratex-Rural/Servix.
Deixou a presidência da Eletrobras em junho de 1990, no início do governo Fernando Collor de Mello, transmitindo o cargo a José Maria Siqueira de Barros. Em 1992, reassumiu a presidência da Memória da Eletricidade. Entre 1994 e 2006, atuou também como diretor e consultor da BFB Engenharia e Consultoria Ltda.
A par de suas atividades no setor de energia elétrica, dedicou-se à prática artística, em especial a produção de aquarelas, tendo realizado exposições em várias cidades brasileiras. Sua obra artística foi retratada em Mario Bhering: a história da aquarela (2005), de autoria da historiadora Cristina Ávila.
Sobre sua trajetória profissional, foi publicado Mario Bhering: memória do setor elétrico brasileiro (2006), organizado pelo jornalista Alexandre Falcão.
Biografia atualizada por Paulo Brandi no ano de 2008. Mario Bhering faleceu em Belo Horizonte no dia 01 de setembro de 2009.