“Afinal, o que é um gênero documental?”
"Gênero documental: reunião de espécies documentais que se assemelham por seus caracteres essenciais, particularmente o suporte e o formato" (Arquivo Nacional, 2005, p. 99).
Preservar documentos vai muito além de organizá-los em estantes ou bases digitais, é manter vivas as histórias, os saberes e as informações que eles carregam, garantindo que sigam acessíveis, compreensíveis e recuperáveis ao longo do tempo. Na Memória da Eletricidade, essa missão se realiza por meio da salvaguarda cuidadosa de cada material, respeitando suas especificidades físicas e informacionais.
Entender a que gênero um documento pertence é fundamental para definir o tratamento adequado de cada item, já que diferentes suportes como filmes, fitas magnéticas, papéis e troféus exigem condições específicas de preservação e armazenamento. Cada material demanda controle rigoroso de temperatura e umidade, proteção contra acidez, controle de luz, invólucros apropriados e acondicionamento técnico. Esses cuidados são essenciais para evitar a degradação física e garantir a longevidade do patrimônio sob guarda. A correta identificação do gênero, portanto, orienta decisões técnicas sobre conservação, digitalização e acesso, contribuindo diretamente para a durabilidade e o valor cultural dos acervos.
Esse trabalho exige o olhar atento, técnico e investigativo dos profissionais da preservação, que colocam em prática os conhecimentos sobre preservação documental para interpretar corretamente os registros, estruturá-los de maneira coerente e assegurar seu tratamento adequado, salvaguardando seu significado, contexto e valor técnico. O conceito de gênero documental auxilia na compreensão sobre a forma da documentação, ou seja, seus objetivos de comunicação e o suporte em que se apresentam. É enxergar, em cada suporte, um modo de expressão. E, assim, transformar o arquivo em lugar vivo, acessível e relevante no presente e indispensável para o futuro.
Mas quais são os gêneros documentais e sua importância?
Entre as publicações de referência produzidas pela arquivologia, instituições de preservação e a experiência da Memória da Eletricidade os gêneros são divididos da seguinte maneira:
· Textual: documentos cuja comunicação se dá por meio da linguagem verbal escrita, em suporte físico (papel) ou digital.
Exemplo: Projeto sobre a usina de Três Marias
O projeto sobre o aproveitamento hidrelétrico da Usina de Três Marias faz parte do acervo produzido e acumulado pelo engenheiro Joubert Diniz, durante a sua atuação na Cemig.
· Iconográfico: documentos com imagens fixas produzidas manualmente, fotograficamente. Geralmente são apresentadas em papel fotográfico, papéis de pintura entre outros suportes voltados para imagem como foco.
Exemplo: Desenho de John Cotrim
Desenho de perfil de John Reginald Cotrim, em tela e nanquim. Além de desenhos artísticos como este, a Memória da Eletricidade conserva um conjunto expressivo de fotografias de grande valor histórico.
· Audiovisual: documentos que possuem imagens em movimento com ou sem som, de forma sincronizada. Existem vários suportes para audiovisual, mas na Memória da Eletricidade os principais são: filme de rolo de 16 e 32 milímetros, U-Matic, Betacam, VHS, DVD e HDs.
Exemplo: Vídeo sobre a criação da Eletrobras
Vídeo sobre o projeto do presidente Getúlio Vargas para a criação da Eletrobras.
· Cartográfico: documentos que apresentam formas gráficas, simetria, simulações de espaços geográficos etc.
Exemplo: Planta Usina Hidrelétrica de Marimbondo
A planta doada por Léo Amaral Penna mostra imageticamente a rede primária do sistema de distribuição do Recife (PE).
· Sonoro: documentos que registram exclusivamente sons, sem presença de imagem. Entre os suportes mais comuns, estão fitas cassete e arquivos digitais de áudio.
Exemplo: VIII Sessão Plenária CCON
Registro sonoro da VIII Sessão Plenária do Comitê Coordenador de Operações Norte-Nordeste - CCON. A reunião encontra-se gravada em 16 fitas cassetes.
· Tridimensional: documentos ou objetos que possuem volume físico e características materiais que ocupam três dimensões (altura, largura e profundidade). Sua função pode estar relacionada à atividade administrativa, simbólica, técnica ou representativa da instituição produtora.
Exemplo: Lâmpada de Bulbo - década de 1920
A lâmpada de bulbo, da década de 1920, foi doada pelo engenheiro Tullio Romano à Memória da Eletricidade. O objeto é composto por vidro ou cristal branco translúcido, em forma de gota e apresentando a marcação do símbolo do fabricante e a inscrição [110-50 CP]. Contém dois filamentos de tungstênio e base rosqueada de metal dourado. Ou seja, é possível entender a constituição material do item e a função simbólica e documental que ele apresenta.
Falar sobre gêneros documentais é reconhecer a diversidade de formas com que os acervos arquivísticos são constituídos. Cada documento, seja um relatório, uma fotografia, uma gravação ou até mesmo uma lâmpada, guarda em si uma história, um contexto e uma intenção. Identificar a que gênero ele pertence é essencial para orientar o tratamento técnico apropriado, contribuindo para sua correta organização, preservação física e, sobretudo, para o acesso à informação que ele carrega.
Na Memória da Eletricidade, essa compreensão se concretiza no trabalho dos profissionais que atuam com o acervo. Ao reconhecer os diferentes gêneros documentais, entende-se que vão além da identificação do suporte ou da forma de registro: atuam na proteção de memórias, trajetórias, registros que revelam como a energia elétrica transformou o Brasil e a vida de seus cidadãos. Preservar documentos, assim, é também preservar sentidos, experiências e patrimônios compartilhados. Mais do que uma questão técnica, reconhecer os gêneros documentais é um gesto de respeito à história e à memória.
Mas e depois dos gêneros documentais?
Vamos abordar o conceito de espécie e tipo documental, além do papel de cada um no processo de organização de um acervo.
Ficou curioso? Calma! Esse tema será aprofundado no próximo artigo desta série, em que vamos explorar melhor os processos que acontecem nos bastidores do trabalho da Memória da Eletricidade.







