O caminho da Eletrobras Chesf nas águas do Rio São Francisco

Conheça a história da segunda maior geradora de energia do Brasil.
12/03/2025

“Salve, São Francisco, salve este teu rio
Que o nosso olhar nunca o veja vazio
E na paz de suas águas de suave beleza
Possamos contemplar sua imensa grandeza
Contemplar sua natureza”

Trecho da música Opara de Geraldo Azevedo

Fonte de inspiração para músicas populares, o rio São Francisco percorre cinco estados brasileiros, nascendo em Minas Gerais e desaguando no oceano Atlântico entre os estados de Alagoas e Sergipe. Foi às margens do rio que as populações ribeirinhas se desenvolveram através da agricultura e da pesca.. E é também o Velho Chico a principal fonte de energia para o desenvolvimento das usinas hidrelétricas do Nordeste.

No início do século XX, o nordeste dependia de termelétricas que funcionavam precariamente. As fábricas têxteis e usinas de açúcar tinham sistemas próprios para não ficarem desamparadas e as pequenas cidades contavam com geradores que restringiam o horário para iluminação. A maioria da população vivia no escuro.

A CHESF chega para mudar esse quadro. Da escuridão, fez-se a luz. O aproveitamento em grande escala das condições naturais da queda do rio São Francisco na cachoeira de Paulo Afonso fez com o Nordeste pudesse se desenvolver socioeconomicamente.

Da ideia à realização

“Delmiro deu a ideia
Apolônio aproveitou
Getúlio fez o decreto
E Dutra realizou”

Trecho da música “Paulo Afonso” de Luiz Gonzaga

O primeiro a aproveitar o potencial hidrelétrico da cachoeira de Paulo Afonso foi o industrialista Delmiro Gouveia. Em 1913 o cearense instalou na Vila da Pedra, em Alagoas, uma usina para abastecer sua fábrica têxtil em 1913.

30 anos depois, o ministro da agricultura do governo Vargas, Apolonio Sales abraçou a concepção da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, a CHESF para criação de uma central geradora. Mas, foi somente em 1948, sob a chancela do presidente Gaspar Dutra, que a companhia foi fundada.

A construção de Paulo Afonso I dá início ao envolvimento do Estado na produção hidrelétrica. O funcionamento da usina começou em 1955, durante o mandato de Café Filho, duplicando a capacidade energética do Nordeste. A CHESF foi a primeira companhia pensada para atender uma grande região, não apenas um estado, consolidando a expansão do parque elétrico brasileiro na segunda metade do século XX. Modelo esse que ganhou pleno desenvolvimento sob a liderança da Eletrobras a partir de 1962.

Ao longo da segunda metade do século XX, a Companhia foi responsável pelo processo de eletrificação do nordeste. Municípios que antes dependiam de geradores a diesel passaram a ter energia contínua e confiável. Com a eletrificação, houve avanços em serviços essenciais como iluminação pública, abastecimento de água, comunicação e transporte. E o crescimento da indústria impulsionou a oferta de trabalho, incentivando a migração para áreas urbanas.

A seca sempre foi um grande obstáculo para o desenvolvimento da região Nordeste. A agricultura era atividade arriscada e pouco produtiva, mas, com a eletrificação, a irrigação se tornou viável, transformando o semiárido. O Velho Chico passou a ser símbolo do progresso e do desenvolvimento nordestino.

Mapa do plano de eletrificação do nordeste

Antes da usina, Paulo Afonso era um lugar praticamente despovoado. Com as obras e a chegada da CHESF houve um grande fluxo migratório, principalmente de nordestinos em busca de trabalho.

Estima-se que, entre 1948 e 1955, cerca de 20.000 pessoas tenham migrado para a região devido às oportunidades de emprego na construção da usina. Esse crescimento continuou ao longo das décadas seguintes, impulsionado pela expansão do setor elétrico e pela urbanização da cidade.

Hoje, Paulo Afonso tem uma população de aproximadamente 120.000 habitantes, sendo que grande parte desse crescimento está diretamente ligada à presença das usinas hidrelétricas.

“Paulo Afonso vê-se, sente-se, não se descreve”

Frase de do engenheiro e geógrafo baiano Theodoro Sampaio em seu diário de viagem

A epopeia no semiárido

Erguer a hidrelétrica foi uma verdadeira epopeia! O fechamento do Rio São Francisco foi um dos maiores desafios técnicos, exigindo soluções inovadoras como ensecadeiras e estruturas semi flexíveis para conter a água. A primeira grande usina nordestina foi construída em um local sem recursos básicos. O projeto de aproveitamento hidrográfico previu a construção de uma central subterrânea com 180 MW de potência, que ficou conhecida como Paulo Afonso I, e mais duas centrais geradoras, utilizando o mesmo reservatório, que vieram a ser Paulo Afonso II e III.

Em 15 anos, a CHESF passou de 28 para 1322 locais atendidos no Nordeste. Em 1971, ultrapassou a marca de um milhão de quilowatts de potência instalada com o início da operação de Paulo Afonso III. E seguiu expandindo com a construção de Apolonio Sales, conhecida como Moxotó, e Paulo Afonso IV. As cinco usinas formam o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso.

A Eletrobras Chesf hoje

A Eletrobras Chesf ainda é responsável por mais três hidrelétricas no rio São Francisco: Sobradinho, dona de um dos maiores reservatórios do mundo; Itaparica, que recebe o nome em homenagem ao rei do baião Luiz Gonzaga; e a maior e mais recente, a hidrelétrica do Xingó, com capacidade de 3162 MW.

Para além do rio São Francisco, a Companhia cuida das usinas de Boa Esperança, no rio Paraíba, divisa do Maranhão com o Piauí; Funil e Pedra, ambas no rio das Contas, na Bahia; e as pequenas Araras, na Paraíba, e Coremas, no Ceará.

A Eletrobras Chesf é hoje a segunda maior geradora de energia do Brasil, garantindo o abastecimento do Nordeste e integrando o sistema nacional de eletricidade. Não apenas levando energia à região, mas também reconfigurando profundamente a cultura regional.